Homenagem a Tarumirim

Entre a encarpada montanha verdejante
sob um céu, azul e fulgurante
surge tímida, bem ao fundo, uma cidade
de estreitas ruas, muita criança, de toda idade.

Lá no alto, a Igrejinha D”Aparecida
com o suor dos devotos erigida
E a prátea cruz, rumo ao firmamento
incólume à própria fúria do elemento.

As águas mansas do seu velho regato
serpenteando em curvas, pelo vale enorme
deslizam suaves, molhando o mato
em seu leito, raso e disforme.

Na grande praça, um belo jardim e a Matriz
onde gente humilde reza preces ao Criador
rogando a ELE que faça o mundo mais feliz
onde reinem a paz, a justiça e o amor!

E vislumbro além, um vulto que apeia
de um carro e se dirige logo à cadeia
E ali se abraça a um infeliz condenado
que lhe conta, baixinho, seu erro apenado.

Ó Tarumirim, é a ti que eu me refiro
cidade-musa, é em ti que eu me inspiro
vejo-te alegre, bela e saltitante
e não raro triste, sob a dor lancinante.

Eras apenas a mata agreste no pretérito
muitos vultos fizeram a sua história
O teu jardim é um símbolo e o mérito
deves a eles toda tua glória.

Como é bom quando tua gente se irmana
porque te vejo rir de tanta felicidade
de todos os lábios o mesmo sorriso emana
E como ficas bela, ó meiga cidade!

Tarumirim, Tarumirim, se choras ferida
parece que a lua se esconde dorida
sob a dor da perda de um filho teu
e que o sol já não brilha: ele morreu! ....

O sino a tanger, em seu débil lamento
pára o cortejo: a terra fria, o último alento,
os rostos sérios, os ais convulsos, no campo santo,
As lágrimas rolam, o adeus final, a tumba o manto.

Cidade-Mestra que forjas tua mocidade
na têmpera do amor, da fé e da altivez
indene do vício, do orgulho, da maldade
Do ódio cego, da paixão e da insensatez!

Céu pequeno, és ainda a cidade jardineira
gentil, risonha e muito generosa
que acolhes a todos, afável, hospitaleira
o jasmim, a gardênia, o cravo e a rosa.

Quero ver-te sempre humana e progressista
para que aos teus encantos ninguém resista:
como uma linda noiva, de grinalda e véu
Vestida por Deus e ornada pelo céu.

AFRÂNIO DE PAULA BOMFIM